Você sabia que três Mundiais de Esportes para Cegos serão realizados como parte dos Jogos Mundiais de Esportes para Cegos (IBSA World Games) em 2023? Os Jogos Mundiais de Esportes para Cegos acontecerão no dia 27 de agosto de 2023 e serão realizados em Birmingham, Inglaterra.
A última edição do evento, contou com 1000 atletas de 70 países em nove esportes e foi realizada em 2015, na Coreia do Sul. Uma versão menor, com o judô paralímpico e o goalball, aconteceu em 2019, nos Estados Unidos, mas funcionou basicamente como uma qualificatória para Tóquio 2020.
Conheça um pouco dos esportes de competição que podem ser praticados por pessoas com deficiência visual (baixa visão ou cegueira):
ATLETISMO: é um conjunto de atividades esportivas que consistem em saltos, corridas e arremessos. Os atletas são divididos em 3 categorias, de acordo com o nível de deficiência: B1, B2 e B3. O atleta B1 obrigatoriamente compete utilizando um óculos opaco, para bloquear a entrada de luz e anular qualquer percepção visual. Em provas de pista, ele possui o direito de utilizar duas raias, além do atleta guia. Para o atleta B2, o guia é opcional e ele ainda terá duas raias a sua disposição, já o B3 não possui direito ao guia e tampouco duas raias.
CICLISMO: a única adaptação desta atividade é o uso de tandens (bicicletas com dois assentos), onde um abriga o deficiente visual e o outro guia que possui visão normal e auxilia o caminho.
FUTEBOL DE CINCO: cada time é composto por 5 jogadores, sendo 4 cegos e 1 goleiro com visão normal. Todos (exceto o goleiro) precisam usar vendas nos olhos para garantir igualdade. A bola possui um som que auxilia os jogadores, além disso, cada time possui um guia que fica atrás da trave e auxilia a direção a ser tomada para realizar o gol.
JUDÔ: neste esporte atletas são divididos em categorias de acordo com o peso e não pelo nível de visão. As regras são praticamente iguais a da Federação Internacional do Judô, com apenas 3 exceções: os participantes iniciam a luta com a pegada feita, a luta é interrompida quando os oponentes perdem o contato, e não há punições caso algum atleta saia da área de combate.
NATAÇÃO: os atletas com deficiências visuais possuem um tapper nessa modalidade, um assistente técnico que toca as costas do nadador com um bastão toda a vez que este estiver próximo das bordas.
GOALBALL: um jogo dividido por 2 equipes com 3 jogadores cada, todos usando vendas para haver igualdade. Os jogadores tem o objetivo de acertar o gol adversário e defender o seu. A bola possui um som e só é permitido o arremesso rasteiro. Não há qualquer contato entre os times adversários.
HIPISMO: nesse esporte homens e mulheres competem juntos, os cavalos também recebem medalhas e as pistas devem oferecer mais segurança que as convencionais. Além disso, existem sinalizações sonoras para orientar os atletas cegos.
VELA: nesse esporte as únicas adaptações são os tipos de barcos utilizados. Um barco da classe 2.4mR tripulado por um único atleta e outro da classe Sonar, com 3 atletas.
BOCHA: neste esporte um jogador lança uma bola pesada o mais próximo que conseguir de uma outra bola menor. Os jogadores cegos podem contar com a ajuda de um guia para lhe informar a direção que deve seguir para o lançamento.
BASQUETE: deficientes visuais podem jogar essa modalidade e acertar muitas cestas. É preciso de um aparelho que fique provocando sons perto das cestas ou alguém que fique embaixo do aro, batendo nele com um bastão, provocando ruído, dessa forma o jogador cego saberá para onde arremessar a bola.
ESQUI: atletas cegos praticam essa modalidade geralmente acompanhados de um guia que conduz o caminho, porém, antes de chegar nesse estágio o esquiador com deficiência é apresentado a uma superfície lisa do esqui, depois começa a executar declives leves e só então, se estiver adaptado e se sentindo seguro começa a esquiar nos declives principais com ajuda de um condutor.
No Brasil há inúmeras ONGs e associações que desenvolvem projetos de inclusão de pessoas com deficiência visual através da prática esportiva. Um dos projetos é o “Educação Física e o Deficiente Visual – Curso de Capacitação Urece Esporte e Cultura”, da ONG Urece Esporte e Cultura para Cegos, que tem o objetivo de tornar as escolas e as aulas de Educação Física ambientes seguros e inclusivos para os alunos com baixa visão ou cegos. O projeto capacitou 30 professores de Educação Física da rede pública de ensino do Rio de Janeiro para que saibam lidar com os principais desafios de pessoas com baixa visão ou cegos e assim poder incluí-los em suas aulas.
“Esse curso foi fantástico. Procuramos ensinar aos professores dicas simples de como eles podem adaptar materiais do dia a dia para que essas crianças possam participar das aulas. Por exemplo, se colocarmos a bola em uma sacola de mercado, isso já funciona”, disse o presidente da Urece Esporte e Cultura para Cegos, Anderson Dias.
Atleta desde os 11 anos de idade, Anderson Dias é campeão paralímpico de Futebol de 5. Ele perdeu a visão aos três anos e estudou o Ensino Fundamental em uma escola para pessoas com deficiência visual. No entanto, quando entrou no Ensino Médio, se mudou para uma escola tradicional. Segundo Dias, apesar de todos os esforços para a inclusão das pessoas com deficiência, infelizmente a escola ainda não está preparada para receber esse público. “A dificuldade de ser incluído não estava apenas dentro da sala de aula, mas também na quadra, nas aulas de Educação Física”, disse.
Por Patricia Mucedola
Ortoptista do Senso